quarta-feira, 10 de julho de 2013

Metodologia

UMA METODOLOGIA PARA O ENSINO DE QUÍMICA E FÍSICA: A PRÁTICA DA PROBLEMATIZAÇÃO E A EXPERIMENTAÇÃO

Tema: Luz e Visão

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como busca estabelecer uma metodologia para o ensino de conteúdos de Física no ensino de Ciências do Nível Fundamental, tendo como base o tópico Luz e Visão, conteúdo presente no Tema 10, eixo 2 dos Conteúdo Básico Comum para o estado de Minas Gerais (CBC). Este tópico trata do desenvolvimento de habilidades referentes aos conceitos de propagação e reflexão da luz, sombras, cores e formação de imagens em espelhos, bem como os processos relacionados com o recebimento e processamento de informações pela visão humana. (CBC, 2013).
O estabelecimento desta metodologia tem como objetivo a proposição de uma aula de Física, abordando a temática acima citada, e que busque trabalhar uma metodologia de ensino que permita aos estudantes compreender e interagir com seu próprio conhecimento, facilitando a compreensão de conceitos e integrando-os ao cotidiano dos estudantes.
O estabelecimento de novas metodologias, que incentivem a problematização e a experimentação por parte do estudante é imprescindível para a superação das posturas tradicionais de ensino, que visam a simples acumulação de conteúdos, em detrimento das possibilidades de construção dos conhecimentos por parte dos estudantes. Neste sentido, o uso de recursos didáticos que explorem a formulação de hipóteses por parte dos estudantes, bem como a discussão de resultados obtidos através da experimentação pode lançar uma nova luz para o ensino de Física em todos os níveis de ensino. (BACHION e PESSANHA, 2012)
A problematização e a experimentação, neste sentido, não são apenas uma exclusividade do ensino de Física, mas deve envolver todos os campos de ensino, devendo ser aplicadas de forma recorrente na escola, a fim de permitir o desenvolvimento individual dos estudantes. Em relação a isto, Berbel, 2011 coloca que:

Portanto, juntamente com os diferentes tipos de informações a serem adquiridas, podemos compreender, pelos textos da Lei, que a escola tem a incumbência de atuar para promover o desenvolvimento humano, a conquista de níveis complexos de pensamento e de comprometimento em suas ações. (BERBEL, 2011, pg. 26)

Neste contexto, a atuação do professor nas mudanças metodológicas que se propõem é imprescindível, visto que ele encontra-se mais capacitado para estimular e disponibilizar os recursos essenciais para que os estudantes cumpram os objetivos propostos pelas atividades sugeridas, permitindo a criação de novas atitudes e o estabelecimento de novos conhecimentos por parte dos estudantes. (SANTOS e SILVA, 2008)

1.1 A problematização no ensino de Ciências:

A atividade proposta neste trabalho será pautada na problematização aqui entendida como o estabelecimento de situações-problema, que agucem a curiosidade dos estudantes, estimulando-os a pensar nos fenômenos do seu cotidiano e em hipóteses para explica-los. Neste sentido, o problema é entendido como algo novo e diferente, que não tem uma solução imediata, mas que leva o estudante a refletir e a tomar decisões. Desta forma, o estudante tem uma participação ativa em seu processo de aprendizado. (BACHION e PESSANHA, 2013)
Estas situações-problema podem ser estabelecidas a partir de fenômenos do cotidiano, como ponto de partida para o aprendizado, visto que estimula o uso de habilidades cognitivas, superando a simples memorização de respostas corretas. A formulação de hipóteses, a análise crítica e a reflexão são habilidades que devem ser estimuladas em todos os níveis de ensino e que são fundamentais para a vida dos estudantes, e não apenas ao aprendizado de Ciências. Delizoicov, 2001, apud Bachion e Pessanha, 2012, afirma que na problematização:

[...] apresentam-se situações reais que os alunos conhecem e presenciam, e que estão envolvidas nos temas, e que também exigem a introdução dos conhecimentos contidos nas teorias [...] Problematiza-se os conhecimentos que os alunos vão expondo, de modo geral, a partir de poucas questões propostas. (DELIZOICOV, 2001).

Como ponto de partida, o professor deve elencar uma série de questões a respeito do conteúdo a ser trabalhado, buscando despertar o interesse e a curiosidade sobre os fenômenos estudados. Cabe ao professor organizar os questionamentos e explicações obtidos durante as discussões realizadas sobre o conteúdo, encaminhando os estudantes para a construção de novos conceitos. Assim, o professor deve atentar-se para o nível cognitivo dos estudantes, a faixa etária e ao conteúdo trabalhado.
No entanto, é importante que a proposição de situações-problema no ensino de Física tenha um foco objetivo no sentido de conduzir a reflexões que levem ao aprendizado, e que permitam aos estudantes a formulação de hipóteses. A problematização não é uma simples busca por uma resposta certa, mas sim um processo de mudança conceitual, em que velhas e novas ideias se somam para explicar um fenômeno.

1.2 Recursos didáticos utilizados:

Entende-se por recursos didáticos os materiais usados para o apoio do ensino no conteúdo, e que tem fundamental participação na mediação da relação ensino aprendizagem. (SOUZA, 2007). Neste sentido, a atividade que propomos utilizará como recurso didático a apresentação de slides (Datashow) como apoio para a aula expositiva-dialogada, bem como a experimentação.
O uso do Datashow como recurso didático de apoio tem por finalidade facilitar apresentação de imagens, dando mais agilidade à aula, tornando-a mais lúdica e interativa. É uma ferramenta de ensino, e sua utilização deve sempre ser definida levando em consideração a sua necessidade a determinado conteúdo, e sempre ser acompanhada pela capacitação técnica do docente que a utiliza. (ROSA, 2000)
O uso de recursos audiovisuais deve ser realizado de forma criteriosa pelo professor, tendo em vista a complexa relação entre o ensino e aprendizagem, sobretudo nos níveis básicos de ensino. Este processo envolve uma série de construções simbólicas e abstratas, para as quais os estudantes dos níveis mais básicos nem sempre estão preparados. A velocidade das informações passadas por recursos audiovisuais – se por um lado conferem maior agilidade à aula – podem ter um efeito contrário quando não utilizados corretamente. Sobre isto, Rosa, 2000afirma:

Estas coordenações simbólicas (decodificação - transcrição - codificação)precisam ser trabalhadas pelo Professor desde muito cedo. Um erro que se comete nasescolas é o de achar que, por estarem acostumados a ver televisão, os estudantes jásejam capazes de olhar um filme de Ciências e, a partir dele, compreenderem o eventocientífico mostrado. É o mesmo que achar que, por alguém saber falar, seja capaz decompreender o discurso técnico.

A experimentação como recurso didático é compreendida como o processo de construção do conhecimento por meio de atividades práticas que comprovem ou não hipóteses formuladas para a explicação dos fenômenos. A experimentação é uma metodologia muito utilizada por professores de Ciências, sobretudo pelo caráter motivador e lúdico da atividade, que estimula o interesse dos estudantes e alcança maior envolvimento por parte destes aos temas discutidos. (GIORDAN, 1999).
No entanto, não é incomum o uso da experimentação, sobretudo nos níveis básicos de ensino, como um instrumento com o fim em si mesmo: ao invés de estimular a reflexão e a criação de novas hipóteses, a realização de experimentos ser usada apenas para exemplificar leis e teorias ensinadas em sala de aula, com fórmulas e passos prontos, como se por si só, a realização dos mesmos pudesse imprimir nos estudantes o conhecimento científico. (BATISTA et al, 2009)
Neste contexto, o processo de experimentação deve dar aos estudantes autonomia para observar e pensar sobre seu próprio processo de aprendizagem, sem a preocupação com a possibilidade de erros no processo de experimentação. Segundo Andradeet al, 2009,  a história do desenvolvimento científico sempre esteve pautada em momentos de ruptura e crise, de forma que o ensino experimental também deve estar aberto a esta possibilidade. Sobre este assunto, Giordan, 1999 fala:

Numa dimensão psicológica, a experimentação, quando aberta às possibilidades de erro e acerto, mantém oaluno comprometido com sua aprendizagem, pois ele a reconhece comoestratégia para resolução de uma problemática da qual ele toma parte diretamente, formulando-a inclusive. (GIORDAN, 1999, pg. 46)

Assim, o uso destes recursos didáticos de forma eficiente e integrada às habilidades a serem desenvolvidas e estabelecidas pelo Conteúdo Básico Comum de Ciências para o tópico escolhido é essencial para o desenvolvimento de uma aula interativa e que permita a construção do conhecimento pelos estudantes do Nível Fundamental de ensino.

2. PASSO A PASSO DA AULA

A aula proposta terá como ponto de partida as habilidades básicas presentes no tópico 10 (Luz e Visão) do CBC, mais especificamente a que trata da relação entre a reflexão da luz com as cores dos objetos.
Em um primeiro momento, será realizada uma discussão inicial, onde os estudantes serão levados a refletir sobre algumas questões:

a) O que é luz?
b) Qual é a cor da luz?
c) O que são as cores?

Esta reflexão justifica-se pela problematização, como já afirmado anteriormente, que visa o estabelecimento de questões problemas que incite os estudantes a pensarem sobre a temática, e, por meio do diálogo, proporem soluções para as questões. (SANTOS e SILVA, 2008).
Após um breve momento de discussões, será realizado o segundo momento, uma aula expositiva-dialogada, onde serão explorados os conceitos de luz, enfatizando o espectro visível, ou seja, a pequena faixa de frequências das ondas eletromagnéticas que conseguem impressionar e estimular nosso aparelho receptor, bem como o conceito de cor e sua relação com a reflexão da luz. Neste momento, o uso do DataShow como ferramenta para a apresentação de imagens é imprescindível.
Após a apresentação dos conceitos básicos, iniciaremos as atividades de experimentação, que serão divididas em duas etapas. A primeira etapa será conduzida pelo docente e consistirá na repetição das duas experiências realizadas por Isaac Newton, em 1666, para comprovar a composição da luz branca: com o uso de uma lanterna e um prisma, faremos a decomposição da luz branca, usando como ponto de apoio a parede da sala de aula. A seguir, lhes será apresentados o disco de Newton, composto pelas sete cores do espectro do visível, que quando girado com intensidade, assume a coloração branca (SOUZA e BRUCK, 2009). Dado o tempo disponível pela realização desta atividade e os recursos materiais disponíveis (prisma, lanterna e discos de Newton), esta etapa deverá ser realizada de forma coletiva, de forma que as observações sejam compartilhadas.  A segunda etapa de experimentação será realizada de forma individual, com a realização de uma atividade experimental, envolvendo a utilização de CDs e plásticos coloridos, onde os estudantes irão observar a composição da luz branca e a absorção de luz. Serão propostas questões objetivas que os estudantes deverão responder a fim de aprofundar seus conhecimentos em relação ao conteúdo estudado. (SOUZA e BRUCK, 2009)

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, este trabalho tem propõe uma aula de Física, com a temática Luz e Visão, enfatizando as cores que compõem a luz branca. Neste sentido, buscamos criar uma metodologia de ensino de conteúdos de Física para o ensino fundamental, que propõe o estímulo à problematização, aqui entendida como a criação de situações que permitam o desenvolvimento de reflexões por parte dos estudantes a respeito do conteúdo estudado, bem como à experimentação, um recurso didático essencial para o ensino de Ciências, que, quando bem conduzido, estimula o raciocínio e a construção do pensamento científico.
A avaliação da atividade levará em consideração a interação/participação dos estudantes durante as discussões, tanto na fase inicial de problematização como durante a aula expositiva-dialogada, bem como nas atividades experimentais. A realização das questões objetivas também permitirá ao docente avaliar o quanto do conteúdo foi internalizado e quais construções efetivas foram realizadas a partir da aula proposta.

4. REFERÊNCIAS

ANDRADE, Jorge Augusto Nascimento de; LOPES, Nataly Carvalho e CARVALHO, Washington Luiz Pacheco; Uma análise crítica do laboratório didático de física: a experimentação como uma ferramenta para a cultura científica.Florianópolis: VII Enpec, 2009. Disponível em <http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/1161.pdf> Acesso em 07/07/2013.

BACHION, Maria Adriana; PESSANHA, Márlon Caetano Ramos; Análise das metodologias de ensino adotadas em sequências didáticas de ciências: uma reflexão sobre a prática docente. XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino. Campinas: UNICAMP, 2012 Disponível em < http://www2.unimep.br/endipe/2830p.pdf> Acesso em 07/07/2013.

BATISTA, Michel Corci; FUSINATO, Polônia Altoé e BLINI Ricardo Brugnolle; Reflexões sobre a importância da experimentação no Ensino de Física. ActaScientiarum.Human and Social Sciences Maringá, v. 31, n. 1, p. 43-49, 2009.Disponível em <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/view/380/380 > Acesso em 07/07/2013.

BERBEL, Neusi Aparecida Navas; As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011. Disponível em <www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/download > Acesso em 07/07/2013.

BORGES, Regina Maria. Repensando o Ensino de Ciências. In: MORAES, Roque [org.] Construtivismo e ensino de ciências: reflexões epistemológicas e metodológicas.  3ª Edição. Porto Alegre, Edipurcs, 2008.

GIORDAN, Marcelo; O papel da Experimentação no Ensino de Ciências. In: Química Nova na Escola Experimentação E Ensino De Ciências N° 10, Novembro 1999. Disponível em <qnesc.sbq.org.br/online/qnesc10/pesquisa.pdf > Acesso em 07/07/2013.

MINAS GERAIS. Secretaria de Estado da Educação. Conteúdos Básicos Comuns – Ciências 2013. Disponível em <crv.educacao.mg.gov.b> Acesso em 07/07/2013

ROSA, Paulo Ricardo da Silva. O uso dos recursos audiovisuais e o ensino de ciências. Caderno. Cat. Ensino de Física, v. 17, n. 1: p.33-49, abr. 2000. Disponível em <http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/fisica/article/view/6784/6249> Acesso em 07/07/2013

SANTOS, Andrei Juremeira dos; SILVA, Marcia Daiane da; A metodologia da problematização na física do Ensino Fundamental. 1º Simpósio Nacional de Educação e XX Semana da Pedagogia. Cascavel, PR: UNIOESTE, 2008. Disponível em <www.unioeste.br/cursos/cascavel/pedagogia/eventos/2008/1/Art > Acesso em 07/07/2013.

SOUZA, Darliana Mello; BRUCK, Priscila Costernaro. Estratégias de Ensino: O tema Cores no Ensino Fundamental. Santa Maria: UFSM, 2009. Disponível em < http://www.ebah.com.br/content/ABAAABl8MAJ/estrategia-ensino-cores#> Acesso em 07/07/2013.

SOUZA, Salete Eduardo. O uso de recursos didáticos no ensino escolar. ArqMudi. 2007; 11(Supl.2):110-4. Disponível em < http://www.mudi.uem.br/arqmudi/volume_11/suplemento_02/artigos/019.pdf> Acesso em 07/07/2013

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